segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Espíritos dos Mortos

I
Tua alma solitária se verá
Sombria, meditando num jazigo...
Ninguém, da multidão, perscrutará
Esse instante em que estás a sós contigo.

II
Guarda silêncio nessa solidão,
Que não é um exílio—pois então
Os espíritos dos mortos, que de frente
Viste quando viviam, novamente
Na morte te rodeiam... seus desejos
Vêm obscurecer­‑te: oh, sê silente.

III
A noite, embora clara, há­‑de cerrar­‑se,
E o olhar dos astros não há­‑de inclinar­‑se
Dos seus tronos no alto, celestiais,
Luzindo com Esperança aos mortais...
Mas suas rubras orbes, sem halos,
Semelharão, por entre teu cansaço
Um ardor, uma febre, um abalo...
Capazes de prender­‑te como um laço.

IV
Então surgem ideias que não espantas...
Então surgem visões que não falecem...
E que na tua alma permanecem
Sempre... como o orvalho sobre as plantas.

V
Queda­‑se a brisa... essa brisa divina...
E a névoa que recobre a colina,
Sombria... sombria... porém contínua,
É um sinal... um símbolo etéreo
Que por sobre os ciprestes se insinua
Ah, mistério entre os mistérios!…

(Edgar Allan Poe)

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