sábado, 28 de fevereiro de 2015

A Minha Dor

"A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal…
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias…
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve… ninguém vê… ninguém…"

(Florbela Espanca)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O Tigre

Tigre! Tigre, ardendo grave
Pelas florestas do entrave,
Que mão ou olho imortal
Modulou-te simetria tal?

Em abismos ou céus quais
Forjou teus olhos fatais?
A qual asa ousou imitar?
Que mão pôde o fogo apanhar?

Diga-me, qual braço, e qual arte,
O cárdio-tendão veio trançar-te?
Quando ele começou a bater,
Que terrível mão, e que ser?

Que martelo? Qual corrente?
Que fornalha forjou-te a mente?
Que bigorna e que tenaz
Tuas unhas tornou capaz?

Quando as estrelas com suas lanças
Cobriram de lágrimas as crianças,
Sorriu ao ver o seu trabalho?
Quem fez o Cordeiro, deu-te talho?

Tigre! Tigre, ardendo grave
Pelas florestas do entrave,
Que mão ou olho imortal
Ousou dar-te simetria tal?

(William Blake)